ISTO É PARA MIM?
Cumpria eu, de boa vontade diga-se, o terceiro e último set musical da noite, na postura habitual, concentrado mas de olhar perdido no público, sem ver nada de concreto, quando algo se concretizou à minha frente, fazendo com que o olhar perdido e sem nada ver, passasse a um olhar focado e querendo tudo ver… melhor dizendo, querendo tudo entender.
A dois metros de mim, dançava (?) sozinha na pista, um exemplar feminino da espécie humana, com um olhar felino apontado à minha pessoa, cujos movimentos entravam violentamente pelos meus olhos, tal eram a voluptuosidade, a lascívia e sensação deleitosa, transmitidas por aquele ser de pouco mais de um metro e meio.
Quando a esmola é grande, o pobre desconfia. E eu desconfiei. Logo!
Dúvidas quase que existenciais tomaram-me de assalto. Do tipo: “Hã?!”; “Qu’é isto???”; “A sério?”
E a mais cruel de todas: “ISTO É PARA MIM???”
Naaaa. Não pode ser!
Mas por outro lado, naquela zona do palco só estava eu. Nem os dois pares de colunas de som, de um discreto cinzento escuro e que estavam entre nós, descaídos sobre o lado esquerdo, serviam para levantar qualquer dúvida e, consequentemente, inventar a tão ansiosa desculpa, por forma a que pudesse afastar de mim aquele constrangimento crescente que, entretanto, invadira o meu ser…
Mas sim…
Dez minutos depois, ainda lá estava o sensual vestido verde, curto nos sentidos vertical e horizontal, fazendo ressaltar as curvas, no plano horizontal e as pernas, no vertical, em cima de dois tacões finíssimos que bem podiam servir de arma, em caso de emergência.
Como duas cabeças sempre pensam melhor que uma, achei que fosse de bom tom passar a informação à minha namorada, que habitualmente se sentava à beira do palco ao meu lado, chamando a atenção dela para o cenário e pedindo-lhe a opinião - sabendo de antemão que toda aquela situação ia ser motivo de fortes gargalhadas.
No fim da noite, disse-me a namorada, quando íamos a caminho de casa:
- Ela deu em cima forte e feio…
Risos…
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