sábado, fevereiro 02, 2008

CABO VERDE VERSUS LÍNGUA OFICIAL

Devo dizer que pensei um bocado antes de escrever este post, por ser sobre o que é e por este tema já ter sido dissecado qb por muita gente, muito blog, muito comment, muitos artigos, muitos colóquios, muitos anónimos e muitos intervenientes identificados.

Tudo começou na minha visita semanal aos blogs da minha preferência e, sendo o "Son di Santiago" de Djinho Barbosa um dos meus favoritos, passei pelo "O post da Eillen é NORMAL? " de 26 de Novembro do ano passado e que por acaso na altura até escapou-me a estes quatro olhos que só de si não vêm lá muito bem. E seguindo o rasto natural existente neste post através dos links, fui parar à origem deste tema, ou seja a "Em Badio é que nos entendemos? " da Eileen Barbosa, no blog Soncent.

Por coincidência, a experiência do discurso feito pelo comissário de bordo em crioulo na sua variante de Santiago, também foi vivida por mim, há poucos dias atrás, aquando da minha ida a Cabo Verde pela altura da passagem de ano, isto a bordo de um ATR 42-500 dos TACV. Mas de forma alguma a minha reacção foi igual à dos intervenientes em qualquer destes posts.

De início foi a surpresa pela novidade. Claro. Depois foi o pensamento de que, se o (a) comissário (a) fosse de uma ilha do Barlavento, naturalmente que o discurso seria feito na variante do crioulo que esse agente dominasse. Por fim, achei muito bem que assim fosse feito, até porque os discursos eram depois feitos no já habitual Português, Francês e Inglês.

No entanto, fiquei deveras espantado com uma coisa que eu classifico uma perda de tempo, que foi o grau de veemência e exaltação com que alguns dos intervenientes temperaram os seus comentários.

Passo a explicar:

Decidir, impingir, tornar oficial, agora, neste momento, nesta era, qual das variantes do crioulo deverá ser a oficial, é pura perda de tempo, porque isso irá acontecer, sim, mas naturalmente, com o passar dos tempos, dos anos, dos séculos.

Existe uma natural tendência para unificar as 9 variantes do crioulo. Digo isto porque, por exemplo, há 22 anos atrás, quando voltei a viver em Cabo Verde, na Cidade da Praia, a variante santiaguense que se falava nessa Cidade era diferente da que se fala hoje em dia. Porquê? Evoluiu. Dirão os especialistas (penso que sim) que houve, tem havido e haverá constantemente um assimilar de expressões que são típicas de outras ilhas, de outras variantes. O que é absolutamente natural, dado o constante circular de cabo-verdianos das diferentes ilhas por todo este arquipélago, participando assim na saudável evolução que qualquer meio de comunicação deve ter.

Acho absurdo e irreal que alguém tente impingir qualquer variante do nosso crioulo como oficial porque, se uma língua demora séculos a formar-se e, mais do que isso (e ainda bem), está em constante mutação, o que dizer de uma língua que tem nove variantes e que, a bem dizer, começou a sua expansão inter-ilhas há qualquer coisa como 33 anitos... Foi há bem pouco tempo que os crioulos começaram a divulgar as suas variantes pelas outras ilhas com maior intensidade. Só foi há 33 anos...

Que se façam estudos, isso sim. Que se criem métodos de escrita, análise, também concordo. Afinal ser humano também implica estudar, investigar, compor, propor. Propor. Impingir, não!

E o que dizer dos cabo-verdianos que estão fora de Cabo Verde? O que dizer destes que, por estarem em "países estranhos" preservaram a forma genuína de falar a variante que é de seu domínio?

Acredito plenamente que isto não é matéria para mim, meus filhos ou netos. Penso que o Crioulo como língua oficial de Cabo Verde, é assunto que deve ser ponderado, sim, mas na sua devida altura. Vai levar muito tempo até que se torne um só e que desse crioulo se crie uma gramática e quiçá, um alfabeto. Quaisquer imposições agora neste sentido são vistas por mim como pôr a carroça à frente dos bois.

Lisboa, 02/02/08

Paló

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