sexta-feira, fevereiro 02, 2007

CLANDESTINO

Estava eu muito bem instalado num dos raros assentos onde os meus metro e vinte de perna cabiam à vontade no avião dos TACV quando senti uma coisa a coçar-me na canela esquerda por baixo das calças.

Coçou-me... Coçei-lhe, ora bem.
Segundos depois voltei a sentir a mesma coisa. Estranho, pensei eu. Voltei a coçar e estendi as pernas para debaixo do assento do aerogajo que se sentaria à minha frente quando levantássemos voo.
Não senti mais nada.
Mas quando o aerogajo sentou-se à minha frente, tive que recolher as pernas. E voltei a sentir "coçerinha". "Isto é bicho!", pensei eu.
Lá fiquei quietinho durante o processo de descolagem, fazendo figas canhota para que não fosse um "sampé" (centopeia) e lembrando-me de um banho fatídico numa casa-de-banho de uma casa onde morei na Achadinha que acabou comigo e mais três sampés no meu corpo.
Quando, após a descolagem, foi possível esticar de novo o pernil, assim fiz e deixei-me estar quietinho à espera que se apagassem as luzes do apertar cintos, para então ir ao WC travar conhecimento com o bicho.
Minutos depois, olhei casualmente para o chão e reparei num grilo que descia calmamente pelas minhas calças, meias e sapatos.
E lá seguiu viagem, o bicho, cabine a cima em direcção ao cockpit.
Por mera piada, chamei uma hospedeira e informei que havia um grilo clandestino a bordo.
"Grilo?" perguntou ela. À minha resposta afirmativa, ela indagou onde raio poderia ter entrado um bicho cujas características são essencialmente noctívagas.
Pensei com os meus botões: "Onde? Mas é claro que um colega noctívago reconhece à distância outro colega noctívago..."

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