Estava a ver o programa Artes e Espectáculos na RTP África e reparei, numa reportagem sobre uma Feira de Qualquer-Coisa que se realizou em Cabo Verde, que havia animação musical feita por um trio - "Rabeca" (Violino), Cavaquinho e Violão.
Involuntariamente ri-me. Ri-me e depois fiquei a pensar: "Mas porque raio ri-me eu?" E fui à procura, cá pelas entranhas do meu eu, porque carga d'água veio-me o riso à boca.
E comecei a lembrar-me de que, pelo menos nestes últimos dez a quinze anos, qualquer actividade que envolvesse mostrar Cabo Verde ao mundo, a vertente musical era representada por um trio ou quarteto, onde o violino era o principal actor, o "sport" como se dizia na minha terra.
E de raciocínio em raciocínio, pensei que nesses anos a música de Cabo Verde, na sua vertente instrumental, evoluiu bastante, com a consagração de artistas exímios na arte de solar com um instrmento - e não estou a falar só do violino.
Mas representar musicalmente Cabo Verde em Feiras de Qualquer-Coisa sempre se manteve neste aparente reinado do violino.
"Mas porquê?", pensei eu.
Analisando o que aconteceu, pelo menos nos vinte anos que se passaram comigo a viver em Cabo Verde, o entertainment comum no princípio desse período, era a básica banda de quatro ou cinco instrumentos, liderados por uma voz.
Aos poucos começaram a aparecer noites de música ambiente animadas não por um artista cantor como figura de cartaz, mas sim por um violinista.
Começou a ser "normal" encontrarmos entertainers na Gelataria por baixo do Hotel Marisol, na Piscina do Hotel Praia Mar, ou seja, foram ganhando terreno e, legítimamente, o violino passou a ser mais solicitado, diminuindo a "diferença" entre estes dois tipos de formação nas aparições musicais.
Mas a verdade é que, monetariamente falando, essa opção também era mais barata. Por que razão? "Por serem mais "novos" na praça, "não podiam pedir cachets iguais aos outros grupos com cantor"", blá blá blá...
E dou comigo a pensar: houve uma estratificação dos cachets do pessoal. E uma coisa leva a outra. Há duas opções para os promotores. E daí a frase que dá título a este post.
PIMBA! Acto contínuo, só se vê e só se houve violino nessas Feiras de Qualquer-Coisa.
E será legítimo pensar: poderá a música instrumental de Cabo Verde ser mostrada aos desconhecedores só pela vertente instrumental violinista? E os actores da música instrumental feita ao cavaquinho - executado como instrumento solista - ? E o violão? Excelentes intérpretes tem este este instrumento!
Mas o cachet estratificado não permite contratar um Bau ou um Quim ALves para animar a Feira, com a sua arte de bem executar o cavaquinho. Ou um Voginha ou um Hernani à guitarra...
É mais barato - e às vezes não tem a mesma qualidade - . E por isso mesmo continuamos a ouvir o violino.
E continuamos a ouvir que se gastaram rios de dinheiro nestas Feiras e também por isso mesmo continuamos a pensar: esse orçamento não permitia alargar um pouco mais os cordões à bolsa e gastar um pouco mais de forma a quebrar a rotina? E a dar uma imagem mais aproximada à realidade?
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