sábado, agosto 12, 2006

SOP'SORA! SOP'SORA!

Estou no ano de 1972. Estou na 3ª classe, na Escola Grande.
Estou de castigo durante o intervalo grande por ter brigado no intervalo pequeno. Estou de castigo juntamente com quem briguei.
Ela pôs-nos de castigo. Ela puxou-nos as orelhas. Puxou na parte mais carnuda da orelha, porque o outro castigado tinha problemas no ouvido interno que de vez em quando deitava pus.
E por isso o puxão de orelhas era quase piada.
E como sabia ela do problema do ouvido interno? Porque o miúdo era filho dela. Meu colega de turma, afilhado do meu Pai.
Estou no ano de 1973.
Estou na 4ª classe, na Escola Grande. 1º dia de aulas.
E quem é a "Sô P'sora"? É ela!!! Outra vez!
Estou no ano de 1974.
Estou a acabar a 4ª classe, na Escola Grande.
A música tem-me um pouco afastado dos estudos. Então os meus pais decidiram tirar-me das aulas de violão do Sr. Pepita, que morava mesmo em frente à casa dela.
E dicidiram arranjar-me uma explicadora. E quem foi a explicadora? Foi ela.
Ao longo da vida várias vezes cruzei-me com ela.
Quando o meu primeiro filho nasceu, enquanto esperava para vê-lo na maternidade, fui comprar um suminho compal na loja dela, às 8 da manhã, assim que as portas se abriram.
Sempre gostei muito dela.
E vêm dizer-me ontem à noite que ela faleceu, devido a complicações resultantes de ter apanhado paludismo? Paludismo?!!
Mas todos os anos (e há mais de 20 anos) não existem problemas com esta doença?
Já não houve tempo suficiente para que medidas fossem tomadas por forma a combater estes mosquitos?
Como é possível haver uma justificação de atraso (ou mesmo falta) ao trabalho "por causa da estrada que desapareceu debaixo de água depois da chuvada de ontem"?
Que é feito do sistema de evacuação das águas pluviais? Porque existem águas paradas, autênticos ninhos de mosquitos?
Bem, não quero alongar-me mais, até porque estou a fugir do que me trouxe aqui.
Quero apenas concluir dizendo ao meu amigo, ao meu colega de turma da 3ª e 4ª Classes, afilhado do meu Pai, o Tó, que sinto amargamente a perda da nossa querida Dona Mindoca.
Quero transmitir ao Sr. Filinto, ao Filintinho, ao Beto, à Mena, enfim, a toda a família, os meus sentidos pêsames.
Paulo Renato Mariano de Figueiredo
- Paló -
Lisboa, 12 de Agosto de 2006

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