domingo, dezembro 17, 2006

AHH!!! BALIZINHA!!!

Para quem sabe o que é, quem se lembra da Balizinha?

À partida, só quem tiver mais de 40 anos e for natural de S. Vicente, Cabo Verde.

Ahhh!!!, Balizinha! Quantos corações não fizeste pulsar de ansiedade? Quantas vezes não foste a oportunidade única de colocarmos no peito as nossas paixões e dançarmos com elas a "noite" toda? Quantas vezes não foste a chance de fisgarmos a criatura na qual já andávamos a investir há algum tempo?

E não eras muito exigente. O corredor da casa servia perfeitamente, desde que as outras portas estivessem fechadas e houvesse uma lâmpada que não fosse de luz branca.

A aparelhagem também não era exigência tua. Bastava que debitasse os decibéis necessários para cobrir o ruído dos pés a arrastarem-se pelo chão, no "mexê mexê, roçá roçá".

A selecção musical, essa sim!!! Tinha que ser da melhor. As cassetes, preferencialmente de ferro ou crómio e de 90 minutos, tinham que estar impecáveis. Ou não fosse obrigatória a preparação dessa selecção com pelo menos duas semanas de antecedência... Tínhamos que ir "dar fala" ao Sequeira da Rádio, para que nos fizesse selecções musicais non stop. E não podíamos esquecer da selecção das lentas. Essa sim. Merecia TODA a nossa atenção, pois a hora dos "slows" era a hora da verdade.

Fazer uma Balizinha era sinónimo de dar o último passo na conquista do amor pretendido. Era sinónimo de estreitamento de amizades, era sinónimo de mostrar quem era amigo de quem, pois, Balizinha com mais de 5 pares, já não era Balizinha. Passava a ser Festa. De modo que, outra selecção bem cuidadosa era a de fazer a lista dos participantes. O dono do espaço tinha, logicamente, o direito ao veto. Mas o dono da aparelhagem não ficava atrás...

E era "sabe". Era doce. "Sabin". Era de uma ansiedade sem limites. Corrida contra o tempo. Tínhamos das 20h às 22:30h para jogarmos todos os nossos trunfos. Depois era o acompanhar a dama a casa e aproveitar o momento para roubar o beijo com qual tanto sonhámos.

E quando a dama saía com a desculpa "eu vim com a minha prima... tenho que voltar com ela...". Sim, já sabemos, pois, por isso mesmo convidámos o mais que tudo da prima, para poder dar cobertura "na hora da nossa morte"...

E depois...

Depois era a semana seguinte a cheirar a camisa que tínhamos levado pá Balizinha e que tinha ficado com o perfume dela. Era ficarmos em casa, sentados no sofá da sala de olhar distante, olhos semicerrados, qual carneiro mal morto à bofetada, passando em revista tudo o que acontecera naquela noite, contando pelos dedos as vezes que apanhámos uma erecção de tanto esfregar contra as coxas quentes...

Ahhh "sabura"...

E tínhamos ainda que magicar planos estratégicos para podermos estar com essa pessoa nos dias seguintes, sem que a mãe soubesse, aproveitando as saídas para comprar pão ou fazer algum "mandado".

A alegria suprema era quando nos deslocávamos para a Pracinha do Liceu Velho ou para a esquina do Dr. Aníbal na Praça Nova e dávamos de caras com a nossa paixão. Uuuuiiiii. Sempre podíamos ir para os lados do consultório do Dr. Fonseca ou para o Cortiço Velho para estarmos mais a vontade....

Ahhh Balizinha...

Temos saudades tuas...
Paló

4 comentários:

Anônimo disse...

Pois é meu amigo tb digo ahhh balizinha.
Gostei da prosa, muito gira, fez-me recuar no bom tempo.
Dan

Anônimo disse...

Paló

Balizinha também fazia parte da juventude praiense. Ou já esqueceste de quantas fizemos na tua casa na Prainha? E de tantas que fizemos na casa do zé di maio na madragoa. Acho que nesta ultima casa não fazias parte da trupe. Sweet fourteen and fifteen. Oh tempo, volta pra trás! Balizinha foi algo nacional, nunca foi excluivo de SV!

JJ

Stautira disse...

Por acaso tinha a ideia de que balizinha também se fazia na Praia, embora não me lembre das feitas em casa dos meus pais (por mim).

Lembro-me de algumas paródias organizadas (sûr place) pela minha mãe em 1977 (onde eu era D.J.) mas com outro cunho, eram pessoas com vinte e muitos, 30's, casais sem dúvida, começavam pelas 10 da noite e iam até às 2 da madrugada, mas não me lembro do termo Baliznha...

Mas é natural que esse termo se usasse na Praia também...

Eu é que, no início da adolescência, não vivi muito isso na Praia (os meus 13 para 14 foram no Mindelo).

Paló

Anônimo disse...

Paló

Precisas de "Sargenor" um bom estimulante da memória. Como é que decoras todas as letras das canções que cantas? Já te vi cantar tantas vezes e nunca te vi a olhar para o papel. Achei que tinhas uma memória de elefante!Ok! Pode não ter sido "balizinha", no sentido mais "maroto" do termo as que organizávamos na tua casa (lembro-me uma vez que alguns dançavam agarradinhos no R/C e outros no 1º andar, isso na tua casa na prainha), mas as que nós faziamos um pouco por toda a Praia, não era nada "inocente". A beleza delas é surgirem de repente. EStando muitos de nós a dar voltas na Praça Grande, de repente «ta dába nôs na cabeça» e pronto: arrumávamos um som, palavra puxa palavra, tirávamos as lâmpadas de cor branca, punhamos as de cor roxa e a casa do zé di maio se transformava, num ápice, numa tabanka de hormonas de adolescentes a tocar percussão! Mas tens razão meu amigo, bons tempos! Do "anônimo" JJ