Ontem recebi um email do meu caríssimo “primo-irmão” João Mariano cujo título era "BOLO e VINHO".
Automaticamente fez-se luz na minha memória e lembrei-me de coisas que se faziam em Cabo Verde nos idos tempos dos anos 70.
Mais exactamente, quando um aluno ia a exame da Escola Primária e passava nesse exame, era da praxe riscarem a bata branca do aluno em questão ou correrem pelas ruas da cidade em grupo, constituído por esse aluno e demais colegas em igualdade de circunstâncias, a gritar "VIVA QUEL BOL! VIVA!!!! VIVA QUEL VIN! VIVA!!!!"
Lembro-me do dia do exame da minha 4ª Classe, em 1974, num dia em que aconteceu um eclipse total do sol (que deixou a Cidade do Mindelo completamente às escuras e os galos a cantarem às 11h da manhã como se fosse de noite e muita população desorientada pela falta de conhecimento do fenómeno) e que escureceu grandemente a Cidade da Praia, onde na altura viva com os meus pais.
Nesse dia, após o exame feito e a confirmação que tinha passado para o 1º Ano do Ciclo Preparatório, saímos para as ruas, eu e mais alguns colegas, de batas totalmente riscadas nas costas, com um orgulho mais alto que o nosso tamanho, fazendo muito barulho para chamar a atenção.
Lembro-me que o meu primeiro passo foi ir à Pensão da D.ª Maria do Carmo, onde se encontrava hospedada a minha Avó Albertina para lhe mostrar, com aquele brilho nos olhos, a minha bata, que durante todo o ano tinha sido arduamente cuidada, para não sujar, para não amarrotar, para não isto e aquilo, mas que no momento do "riscanço" eu tinha encarecidamente pedido aos colegas: "Risquem! Risquem!..."
Volvidos este anos todos, acredito agora que tivesse tido a preocupação de recompensar a minha avó pelo esforço e paciência que aquela senhora tinha tido na 3ª e 4ª Classes nas explicações que me dava à tarde. Muito fiz aquela senhora sofrer com a História de Portugal e a palavra “Coelho” escrito com “Q”…
Dois anos passados e já em S. Vicente, foi a vez da minha irmã fazer o exame da 4ª Classe na Escola Camões e lembro-me do grupinho infernal que se formou, gritando pelas ruas de Mindelo "VIVA QUEL BOL! VIVA!!!! VIVA QUEL VIN! VIVA!!!!"
E foi pretexto para fazer festinha em casa com bolo e um sumo da cor do vinho que deixava a boca toda manchada…
E ao escrever este post, veio-me à memória uma canção que compus em 76 em S. Vicente, que aborda este tema.
Coladerinha simples, de dois acordes, poema curto que focava essencialmente os dizeres que faziam parte daquela tradição:
VIVA QUEL BOL!!!
VIVA!!!
VIVA QUEL VIN!!!
VIVA!!!
MÃEZINHA DZÊ
AOJE Ê QUÊ QUEL DIA
SE BÔ F’CÁ RAPOSA
ALI BÔ CA TA ENTRÁ
PUR LI PUR LÁ
4ª CLASSE CA Ê BRINCADÊRA!
Ahhh belos tempos…
VIVA QUEL BOL!!!
VIVA!!!
VIVA QUEL VIN!!!
VIVA!!!
MÃEZINHA DZÊ
AOJE Ê QUÊ QUEL DIA
SE BÔ F’CÁ RAPOSA
ALI BÔ CA TA ENTRÁ
PUR LI PUR LÁ
4ª CLASSE CA Ê BRINCADÊRA!
Ahhh belos tempos…